domingo, 17 de janeiro de 2010

A MANGUEIRA INFÉRTIL

Ouvi um escritor ontem na TV dizer que as pessoas que possuem incontinência verbal, não costumam escrever muito. Eu nem me angustiei, pois não sou escritora e nunca me considerei com tal. Minhas coisinhas são como diários de uma adolescente, embora esteja longe desta idade infernal. No entanto, também não me agrada a proximidade galopante com que estou indo em direção aos quarenta.
Ficaram gravadas em minha memória, talvez seja isso, as palavras de minha amada vó, que falava num tom que era ao mesmo tempo sério, fatalista e cômico: __ A velhice é uma merda!
Pois bem, cá estou usando as minhas palavras tolas e solitárias para me esquivar das tarefas domésticas. Tentativa de não me sentir tão culpada.
É chato lavar louça quando se quer não fazer nada. A mim, agora, me satisfaria deitar em meu sofá e ficar olhando essa mangueira que dá para ver da minha janela da sala. Esse ano, ela não deu uma manga se quer, a pobrezinha. Até que me senti culpada e responsável por isso. Antes de me condenarem pelo que fiz, me entenderão aqueles que tem uma mangueira em seu quintal e não contam com um exército de empregados para limpar os frutos e flores minúsculas do chão . Se não forem varridas, é um tormento. Juntam moscas, abelhas e outros insetos não identificados.
Fato é que me considero com remorso. Ano passado, praguejei tanto, reclamei enquanto espantava abelhas e moscas e limpava as mangas apodrecidas do chão, que até suspeito que a coitada ouviu e ficou inibida e infértil a pobre senhora. Digo senhora, porque já tem quase 100 anos.
Isso foi quase um pecado, afinal, foi quase uma maldição lançada por mim no verão passado. Em minha defesa, apenas posso dizer que não fiz por mal, não queria vê-la assim, tristonha. Tanto é que estou aqui, esperando, esperando... Cadê as minhas mangas queridas, doces, amarelinhas? Já disse a ela em pensamento, que nunca mais reclamarei de limpar o quintal.
Talvez, seja melhor dizer isso em voz alta. Os vizinhos já devem me achar louca mesmo, tanto faz. Xinguei, praguejei em voz alta, pedirei perdão em voz alta também. Talvez me ouça e façamos as pazes. Pobre árvore... Pobre de mim que não sei nada de árvores, muito menos de gente...
Ao menos uma coisa aprendi com isso, a força indiscutível do poder das palavras. Que força!

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