segunda-feira, 14 de março de 2011

Terremoto

Enquanto te amo, o terremoto no Japão espalha a sua dor. Placas tectônicas se deslocam. Ondas gigantes devastam e arrastam coisas e pessoas.
Enquanto te amo, chove. As contas chegam, o pão pula da torradeira, a chave quebra na porta.
O mundo nao pausa, nem suspende.
Seria bom se você entendesse sobre esse amor e pudesse recebê-lo com alegria de primavera. Amar é mais fácil que ser amado. Receber pode ser muito difícil. O desprezo é aceito com uma suave naturalidade, mas o amor constrange.
Enquanto te amo, o feijão descongela na pia e me refaço a cada dia para te amar com poesia e sem medos dos meus e dos teus vazios.

Coisas do mundo


O meu coração diz muitas palavras : confusas, aéreas, secretas. Mas minha boca cala.
Estou paralisada, estática, como o mamoeiro que avisto da janela antiga.
Ele está lá, no silêncio, no contorno da noite. E eu estou aqui, esperando um vento que balance minhas folhas.
Lá fora também não venta. Por aqui, nada é leveza.
O dia quer amanhecer. Ele se apressa e eu tenho medo. O esboço de mais uma manhã. Será ele feliz? Ou será fantasia?
Enquanto isso toca a sinfonia da goteira na bacia.
Estou sem graça, sem ação, sem chão, sem nada.
Vejo o céu nascer rosa, azul e lilás.
Seria bom se tudo fosse poesia
Sem goteira, sem bacia.